O que significa viver bem? Para a Psicologia, a resposta já não se resume à ausência de doenças ou ao simples controle de sintomas. Um conceito cada vez mais presente nas pesquisas internacionais é o do florescimento humano, que descreve o bem-estar como a integração de saúde, propósito, vínculos e virtudes.  Florescer significa mais do que estar livre de doenças: trata-se de viver com vitalidade, propósito e conexão. Como aponta  o pesquisador Tyler VanderWeele(2017), da Universidade de Harvard, o florescimento envolve pelo menos cinco dimensões: 

Saúde física e mental – sentir-se bem no corpo e na mente.

Felicidade e satisfação com a vida – experimentar alegria, contentamento e avaliar positivamente a própria trajetória.

Sentido e propósito – perceber que a vida tem valor e direção.

Caráter e virtude – agir com integridade, coragem, justiça e equilíbrio.

Relacionamentos próximos e de qualidade – vínculos que oferecem apoio, confiança e pertencimento.

    Além disso, fatores como estabilidade financeira e espiritualidade podem contribuir para sustentar essas dimensões ao longo do tempo, dependendo do contexto cultural e social.

  Um estudo global 

    O Global Flourishing Study é a maior pesquisa já realizada sobre o tema. O levantamento acompanha mais de 200 mil pessoas em 22 países, em um esforço inédito para entender o que favorece ou limita o bem-estar ao longo da vida (VANDERWEELE et al., 2025). Os resultados iniciais confirmam que fatores como educação, emprego, vínculos sociais fortes e participação comunitária estão diretamente associados a níveis mais altos de florescimento.

O Brasil em destaque

    No Brasil, 13.204 pessoas participaram da pesquisa. O país obteve índices médios de florescimento considerados altos em comparação a diversas nações desenvolvidas, superando países como Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido. Ainda assim, a pesquisa revelou uma grande desigualdade interna: enquanto parte da população floresce, outra enfrenta dificuldades sérias relacionadas a instabilidade financeira, saúde precária e falta de oportunidades.

    Outro dado chama atenção: os homens relataram níveis mais elevados de florescimento do que as mulheres. Esse contraste não aparece em todos os países, mas, no Brasil, reflete a sobrecarga feminina, marcada pela dupla jornada de trabalho, desigualdade no mercado e maior exposição à violência. São fatores que pesam diretamente na saúde mental e no bem-estar.

    Além disso, como em outros contextos, o estudo apontou que pessoas casadas, empregadas e que frequentam serviços religiosos tendem a apresentar níveis mais altos de bem-estar. Esses elementos reforçam a importância dos vínculos sociais e do senso de pertencimento para a saúde psicológica.

O que isso significa para a Psicologia?

    Os achados trazem um alerta e uma oportunidade. Se, por um lado, confirmam que o Brasil tem potencial para altos índices de bem-estar, por outro evidenciam que esse bem-estar está longe de ser acessível a todos. Para a Psicologia, o desafio é ampliar sua atuação, não apenas tratar sintomas, mas também criar condições que ajudem pessoas e comunidades a florescer. Isso significa investir em práticas clínicas mais integrativas, apoiar políticas públicas voltadas à redução das desigualdades e fortalecer iniciativas comunitárias.

     O florescimento humano, afinal, é mais do que um conceito acadêmico, é um convite para pensar em uma vida plena, saudável e justa. Promover o florescimento implica ajudar pessoas e comunidades a desenvolver resiliência, cultivar virtudes, fortalecer vínculos sociais e encontrar significado na vida. Essa abordagem amplia a missão da Psicologia: não apenas tratar o sofrimento ou o transtorno, mas também favorecer condições para que indivíduos e grupos possam crescer e florescer no seu bem-estar  integral.


Referências de Aprofundamento


VANDERWEELE, T. J. On the promotion of human flourishing. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 114, n. 31,  2017. DOI: https://doi.org/10.1073/pnas.1702996114

VANDERWEELE, T. J. et al. The Global Flourishing Study: Study Profile and Initial Results on Flourishing. Nature Mental Health, v. 3, 2025. DOI: https://doi.org/10.1038/s44220-025-00423-5